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Com o passar dos anos, alguns grupos consolidadores passaram a ampliar os seus negócios e comprar pequenos e médios fabricantes, aumentando a sua participação de mercado e se tornando conglomerados gigantescos.
Adotaram estratégias de crescimento ousadas, com aquisições agressivas, excelente relacionamento com o governo e órgãos reguladores, além de economias de escala, fatores estes que somados tornaram a competição desigual para os pequenos e médios integrantes do setor.
Hoje estas megacorporações detém o controle das redes de distribuição e dos pontos de venda, tornando quase obrigatório que se compre qualquer produto derivado da carne ou de frango deste reduzido número de empresas e suas coligadas, criando assim novos parâmetros de produtos, preços e qualidade, na maioria das vezes sem agregar um valor positivo para o consumidor. Na verdade, muito pelo contrário.
O que isso tem a ver com educação, você deve estar se perguntando?
Há vinte anos atrás já tínhamos centenas de faculdades, centros universitários e universidades públicas e privadas. Podíamos escolher entre várias Instituições, de vários níveis de qualidade e preço, cada uma em um determinado bairro ou cidade e o fator principal na decisão de escolha era ou a pela qualidade acadêmica da Instituição ou pela adequação desta à capacidade de pagamento do aluno ou sua família, e possibilidade de sucesso no vestibular, que eram bastante disputados mesmo em Instituições de menor prestígio.
O diploma de nível superior garantia um novo patamar de empregabilidade e ainda, na maior parte das vezes um nível de formação para o egresso compatível com sua entrada ou ascensão no mercado de trabalho.
A maior rede de Instituições de Ensino Superior tinha menos de cem mil alunos e atuação limitada a uma região geográfica restrita. Em todo o Brasil existiam menos de um milhão e quinhentos mil alunos, contado todos os alunos do ensino superior público e provado. Os vinte maiores grupos somados tinham não mais que um décimo do total de matriculados nesse nível educacional.
O que mudou e por quê?
Os grandes grupos educacionais começaram a aumentar as suas participações de mercado, seja de forma orgânica com o credenciamento de novas Instituições de ensino ou aumentando a capilaridade, ampliando a sua distribuição com a abertura de novas unidades de seus Centros Universitários ou Universidades. Com muitos recursos para investimento, começaram a comprar pequenas, médias e grandes faculdades e outras IES, e tornando o mercado de ensino superior cada vez mais concentrado. Passaram a adotar estratégias de crescimento similares a empresas de varejo, criaram departamentos de relações institucionais e governamentais que mantinham um excelente diálogo com o governo e órgãos reguladores, além de trazer os conceitos de economia de escala e de escopo para a área educacional.
Os reitores e diretores acadêmicos perderam seus postos para executivos oriundos de cervejarias, bancos, fundos de investimento e supermercados que começaram a desenhar modelos de negócios com ênfase na sustentabilidade financeira, olhando para a atividade acadêmica com um enfoque mais operacional e não estratégico, em muitos casos privilegiando a redução de custos e a rentabilidade da IES. O valor para o acionista se tornou prioridade máxima e termos como private equity, venture capital, inicial public offering, valution, due diligence, non-disclosure agrément, até então desconhecidos ou pouco frequentes na vida de reitores, diretores, coordenadores e professores passaram a ser parte importante do dia a dia da gestão das Instituições de ensino superior. Conhecê-los se tornou mais importante do que saber elaborar um projeto pedagógico.
O maior grupo educacional do Brasil tem mais alunos do que o total de matriculados no ensino superior público e privado há vinte anos atrás. Os doze maiores grupos educacionais já estão quase concentrando a metade de todos os discentes. Hoje, dependendo de onde você mora ou trabalha, você entra em uma universidade pública ou em uma destas Instituições, e isto acontece na maior parte do país.
Qual a saída?
Investir mais nas Instituições públicas, que são as que mais investem em pesquisa, pós-graduação e concentram as melhores posições nos rankings mundiais, ao mesmo tempo buscar a criação e implementação de políticas públicas que incentivem as Instituições privadas a criar centros de pesquisa, desenvolvimento e inovação em parcerias com Instituições estrangeiras e nacionais, investindo na qualificação de seus docentes e criando programas inovadores de mestrado e doutorado.
Somente desta forma, poderemos diminuir a assimetria entre o setor público e privado no ensino superior, impedindo que a formação de oligopólios no ensino superior crie uma padronização da oferta educacional gerando um resultado caro, insosso e que tanto mal faz à "digestão" do nosso país.
Marcelo Saraceni, diretor geral da ABIPG - Associação Brasileira das Instituições de Pós-Graduação.
Fonte: Agência Globo
Link: http://www.agenciaoglobo.com.br/dinonews/Default.aspx?
Data da notícia:
07/02/2017